Lagartolandia

Invenções, pensamentos e desafios de um lagarto criativo

domingo, fevereiro 25, 2007

Falta de tempo ou 24h de um dia doido...

Acordo num daqueles dias instáveis: bem cinzento, pelas primeiras horas da manhã, logo seguido de um meio-dia, insuportavelmente quente. Resumindo a coisa: agazalho-me com duas camadas de camisolas, botas, impermeável e guarda-chuva e, logo chego à conclusão que ando com "tralha" a mais pois, o chapéu serve apenas para o sol, as botas para destilar e as várias camadas de roupa para ir fazendo um "streap-tease" forçado.

Quando decido ir às compras, entrando na loja com alguns euros e saindo sempre "mais leve", dou de caras com o vizinho mais chaga que pode existir. Melhor estratégia para se livrar dele, uma pergunta parva e inocente: olhe lá, como é que faz estas beringelas? E... com paciência, anotar mentalmente mais uma receita proveitosa (beringelas com camarão).

Voltar ao carro entre alguns pingos de chuva e verificar que já não há água no limpa pára-brisas. Descarregar as compras em casa e levar um garrafão para encher o depósito de água. Porque o capot está aberto porque não verificar o nível de óleo, as tubagens, as ligações da bateria, o filtro do ar e demais "bodegas" que põem aquela coisa a andar... Verificar também com contentamento que o catalizador ainda lá está (apesar de denunciar uma substituição urgente!) e, os pneus estão mesmo inteiros... é que talvez não acreditem mas, é uma proeza em 10 anos de vizinhança, não ter tido ainda um pneu furado! As molas de pendurar a roupa caiem literalmente na zona de passagem e estacionamento dos carros e é como se avançássemos em terreno minado... na minha modesta opinião, um autêntico milagre!

Volto a casa com trabalho até às orelhas e dá-me uma fúria, arrancando de vez, a porcaria do autoclismo de plástico que se partiu pelo suporte e há já alguns dias que teima em estar torto. E, como não gosto do sistema do "baldinho" toca de ir comprar um novo depósito branco para colocar no devido sítio. Só que me esqueci de um pequeno pormenor: os azulejos (os originais eram à "pato-bravo"... horrorosos!) há uns anos atrás tinham sido pintados, excepto no local do autoclismo. Pois... a verdade é cruel: por uns escassos centímetros tinha que repintar a zona, trabalho esse que se faz por camadas. Em primeiro lugar, aplica-se o primário e espera-se 24h até secar! Depois é que se aplica o acabamento para azulejos conjugado com o endurecedor (todos com um cheiro penetrante e sintético, tóxico diria!) por mais duas camadas. Os pincéis não se lavam com água e sabão mas, com um diluente apropriado. Não se riam, ainda tinha de tudo um pouco em casa. SÓ NÃO TINHA TEMPO!!

Meia-manhã nestas brincadeiras e só há tempo para almoço e voltar ao verdadeiro trabalho: três protectores de berço, uma colcha para cama de grades, uma almofada, uma manta de actividades, uma album de fotos e um saco de ginástica... coisa pouca!!

Às 17h páro para o chá e dou-me ao luxo de o ir tomar fora de casa, nem que seja no café um andar acima. A companhia é boa e há direito a bolo mármore caseiro. Só que... só que aparece mais um vizinho com o seu problema para colocar ao condomínio... e eu que já não tenho nada a ver com Administrações explico que já não é comigo. Mas, não há problema! A senhora pode ajudar, de certeza que tem influência! Literalmente: NÃO!! Não, não é comigo! O senhor não me resolve os problemas com o carro, o autoclismo, as pinturas tóxicas, as doenças da criançada, a imbecilidade dos autarcas... Obrigado mas, NÃO! Bom, de facto, o senhor desistiu e foi pregar para outras freguesias.

E, enquanto bebia os últimos goles de chá, concordei que os autarcas são mesmo imbecis: os políticos na sua maioria são incompetentes para os cargos que exercem e rodeiam-se de pseudo-técnicos que deixam muito a desejar... falando, infelizmente, com conhecimento de causa.

Os bons técnicos, aqueles que têm de facto a preparação adequada para exercer determinada profissão, apresentam por vezes projectos interessantes, inovadores e apropriados. É pena que na maioria dos casos fiquem na "gaveta". Quem precisa de um salário acaba por aceitar uma vida de frustrações e subalternizações, vendo sempre o seu trabalho cair no esquecimento, ou não menos triste, exercer funções numa área que não é propriamente a sua, ou então pior, fazer projectos ou dar cobertura a projectos errados. E... na mó de cima, nos cabeçalhos dos media, com o pavoneio subjamente conhecido os donos "dos tachos".

E, digo isto tudo, lamento mais uma vez dizê-lo, por causa do jardim em frente das minhas janelas (vide comentários em 31 de Maio e 27 Setembro de 2006)...
Pois, foi feita uma grande obra de inovação rodoviária, mesmo aqui em frente: uma rotunda ("a rotunda dos OVNI's" como habilmente uma criança lhe chamou porque não serve para grande coisa, senão levar os engarrafamentos uma rua acima ou abaixo. No seu entender, seria mais eficaz como pista de aterragem de OVNI's...).
Em seguida, fez-se aquilo a que se denomina melhoramento paisagístico. Num jardim destruído por escavadoras, onde se abriram valas e se espalhou a mais variada "trapalhada" relativa às obras, seria louvável dignificá-lo. Soluções: tentar vencer o desnível do terreno criado pelas obras (mal conseguido), alisar e colocar terra para talvez replantar (uma relva por ex:). Em vez de terra temos quantidades industriais de areia, sim, "areia"... não é branca como a da praia mas, castanhita para não criar choques cromáticos aqui à vizinhança. O que vão plantar não sei: talvez cactos... assim, os cãezinhos pensam duas vezes se fazem aqui ou não as suas necessidades! Ou, talvez não plantem mesmo nada porque como tudo é feito à portuguesa e sempre sem consequências lógicas ou minimamente pensadas, a famosa "areia" tem acompanhado o declive do terreno, ao deslizar pelos regos criados naturalmente nos últimos dias de chuva, indo parar, neste momento ao passeio, quem sabe se um dia à própria estrada!
Como elucidar gente de gabinete que seria proveitoso vir à rua? Como pedir que autarcas não cometam imbecilidades? Como permitir que o comum português viva ou consinta a ignorância? E, digo isto porque alguém que conheço já viveu nesta localidade, trabalhou para esta autarquia e simplesmente por não concordar com muitas destas asneiras, pura e simplesmente resolveu educar ambientalmente outras pessoas e outros locais.
Que pena sermos tão pouco ecologistas!
Tão pouco esclarecidos....