Lagartolandia

Invenções, pensamentos e desafios de um lagarto criativo

quarta-feira, maio 03, 2006

Açores...


Mar açoriano, (imagem retirada de www.acores.deviantart.com)
Portugal não é mais que uma finisterra da Europa, geralmente à margem das grandes transformações económicas, sociais e mesmo culturais. No entanto, é riquíssimo em tradições, vivências e provas de sociabilidade impares. Hoje lembrei-me de evocar o homem açoriano, aquele que habita, para uns olhos mais desatentos, numa quase perfeição atlântica mas, que sofre no fundo da sua alma o isolamento e a condenação divina... Os Açores são ilhas violentas, pelo fustigar imperdoável do clima (vento, sol e chuva) ou pela ira da actividade vulcânica (fogo, poalha, cinza e vapores sulfúricos). Aqui o homem tem medo. Medo porque está como que a meio caminho entre o Céu e o Inferno. Medo porque parte para o mar sem saber se regressa a terra. Medo de morrer sem ter vivido o tempo necessário. Aqui o tempo tem o peso da eternidade aqui, sim, compreendemos que somos mínimos porque quase somos engolidos por uma imensa natureza, bela, implacável, selvagem, vastíssima, num mar de proporções indomáveis. Como nas palavras de Raul Brandão, referindo-se ao Corvo, "aqui acabam as palavras, aqui acaba o mundo que conheço; aqui neste tremendo isolamento onde a vida artificial está reduzida ao mínimo só as coisas eternas perduram." (As ilhas desconhecidas, publicado em 1924)